sexta-feira, 16 de abril de 2010

Dono de funerária queixa-se de hospital pela perda de clientes

Fonte: Folha do vale 13/04/2010 17:30:00

O comerciante funerário Francisco Antônio Silva do Nascimento, um dos proprietários do Plasfs, que funciona há seis anos na região, procurou a redação da Folha para denunciar um suposto esquema envolvendo alguns funcionários do hospital distrital de Itaporanga para beneficiar uma única mortuária da cidade, prejudicando as demais e causando constrangimento aos familiares das pessoas falecidas.

Conforme Frank, como popularmente é conhecido, o suposto esquema funciona da seguinte forma: quando um paciente do hospital vem a óbito ou tem seu quadro clínico agravado, o dono da funerária é avisado imediatamente por servidores do nosocômio e, a partir daí, é iniciado um trabalho de convencimento e negociação junto à família do falecido, ainda dentro do hospital, segundo ele, “para que os serviços da tal mortuária sejam contratados”, mesmo os familiares do morto já tendo acertado com outra empresa. “Isso tem causando muito constrangimento às famílias, que acertam com uma funerária, mas terminam tendo que desistir porque são convencidos dentro do hospital a contratar os serviços da funerária para a qual trabalha o esquema”, comenta Frank, ao enfatizar que servidores públicos não podem atuar dentro de um hospital a serviço de uma empresa particular, prejudicando as demais: isso é falta de ética e não pode continuar ocorrendo”.

Segundo o denunciante, os servidores ganham uma comissão por cada defunto repassado à funerária.

Em muitos casos, conforme Frank, a família do falecido contrata os serviços de uma empresa e quando o carro chega ao necrotério, o corpo já tem sido retirado pela outra funerária, cujo dono “tem livre acesso no hospital”. “Naquele caso de Curral Velho, a família de um dos homens mortos, o senhor Juca, me contratou para encaminhar o corpo ao velório e sepultamento, mas quando o meu carro chegou no hospital, às 4h da madrugada, para recolher o falecido, o carro da outra funerária já tinha passado lá e levado o corpo do rapaz”, denuncia.

Em um caso mais recente, conforme Frank, o pai de um homem falecido em Cachoeira contratou os serviços do Plasfs, mas o negócio foi desfeito dentro do hospital por influências de funcionários intencionados a beneficiar a funerária do esquema, o que terminou acontecendo, segundo ele.

Além das comissões pagas aos funcionários, o esquema também é alimentado por um componente político: a funerária que atua hoje dentro do hospital é de gente ligada aos aliados do governo Maranhão, conforme Frank, a exemplo do que ocorria na gestão estadual anterior, quando a empresa privilegiada pelo hospital era de pessoas ligadas a Cássio C. Lima.

“Com a mudança de governo, a funerária que atuava no governo passado foi retirada do esquema e, em seu lugar, ficou a que está atuando agora, e a coisa se tornou ainda mais escandalosa: anteriormente a gente podia trabalhar com mais tranquilidade, mas, depois dessa mudança de governo, a gente está sendo impedido de trabalhar por causa desse esquema para beneficiar uma única funerária da cidade”, lamenta.

Até quando estas informações de agenciamento de cadáveres vão continuar existindo, porque estas situações ainda ocorrem?
Estas perguntas são de simples resposta, mesmo que a resolução destes problemas sejam de difícil solução.
O agenciamento de cadáveres é uma pratica muito antiga, tanto que na evolução da telefonia fixa, foi o agenciamento funerário o responsável por sua modificação.

Nos Estados Unidos da América numa pequena cidade onde haviam duas empresas funerárias o dono de uma delas percebeu a diminuição de seus atendimentos.
Buscando as causas desta diminuição, percebeu um fato curioso, que ocorrerá de certo tempo, onde as contratações presenciais, ou seja, das famílias que vinham até a sua empresa continuava normal, mas os óbitos que ocorriam no hospital eram cada vez menor. Iniciou então uma busca pela razão desta diminuição, no primeiro momento acreditava que seria a interferência do pessoal do hospital que estariam a indicar a outra empresa. Após alguma pesquisa o empresário constatou que a diminuição de seus serviços estava na central telefônica da cidade.

Ocorre que na época, poucos tinham telefone em suas residencias, e o sistema utilizado era por intermedio da telefonista, desta forma cada usuário ao retirar o fone do gancho fazia contato com a telefonista que através de um conector ligava ao ramal solicitado, semelhante aos plug´s de microfone.
Ocorre que uma das telefonistas era a esposa do dono da outra agencia funerária, desta forma quando alguém ligava e normalmente de dentro do hospital, por haver telefone neste local, esta telefonista e suas colegas passavam a ligação sempre para a empresa do marido, alegando que a outra não estava atendendo, direcionando assim os serviços. Diante desta realidade o que outro empresário poderia fazer, denunciar, gritar que pouco mudaria.

Decidiu então tomar uma atitude, com seus conhecimentos em física e eletrônica resolveu por um fim nesta situação, passou a desenvolver um aparelho que pudesse dar liberdade ao usuário do sistema telefônico e ainda garantir a privacidade de quem estivesse falando, tendo em vista que neste sistema era possível ouvir todo conteúdo da conversa na mesa de operação telefônica, a forma seria eliminar o intermediário, ou seja, a telefonista, mesmo que fossem apenas nas ligações locais.

Após muito trabalho e testes o funerário-inventor conseguiu desenvolver um sistema de discagem que executava o mesmo trabalho da telefonista que era ligar um ramal a outro, só que este de forma automática a partir de um disco onde ao girar os números, este acionava o ramal desejado diretamente.

A idéia era simples, mas envolvia mudanças, o número de telefonistas diminuiu, tendo em vista que estas eram necessárias a partir daquele momento, apenas para efetuar ligações de longa distância, o que trazia rejeição natural por parte das pessoas que trabalhavam nesta atividade.

Ocorre então que a partir de uma necessidade foi possível evoluir num processo, se não fosse por perda de serviço, talvez este empresário jamais buscasse desenvolver esta alternativa e o mundo demoraria muito mais tempo até que se chegasse a este sistema que se manteve por muitas décadas até que chegasse os telefones de teclas no inicio dos anos 1990.

Porque ocorre agenciamento de cadáver?
Talvés o principal motivo seja a abertura desenfreada de novas empresas funerárias sem a real necessidade e controle do poder publico que trata este serviço como se fosse apenas mais um comércio, esquecendo que tratasse de serviço essencialmente público de interesse local e que pode ser delegado a iniciativa privada conforme preceitos legais. Outro motivo é provavelmente a facilidade de abertura por parte dos investidores que com uma garagem, seis caixões que as fábricas financiam em cinco ou seis vezes, uma caravam velha do cunhado e uma mesa, o sujeito já se considera funerário. A falta de exigência de comprovação técnica é outro fator que também auxilia os problemas no segmento. Isso tudo aliado a baixa demanda do mercado, fazem com que marginais travestidos de agentes funerários e diretores funerários busquem de forma repugnante a obtenção do serviço fúnebre, demonstrando a todas falta de preparo para o mercado, contratando guardas de hospitais, enfermeiros, policiais e outros corruptos que de alguma forma tem informação privilegiada sobre óbitos ocorridos.

Uma forma de combate a estas questões esta numa regulação macro a nível federal, passando pela criação de um cadastro único de empresas funerárias e agentes, criação de leis municipais exeqüíveis, exigência de entidade de classe que congregue todos os diretores em torno de um conselho, sendo imprescindível para o funcionamento de uma empresa que um Diretor Funerário Pleno, atue na organização.

Estas questões não são utópicas, são difíceis de se alcançar, talvez até mais difícil que implantar um sistema de disco no telefone, mas acredito ser plenamente viável por ser algo que trará muitos benefícios para as comunidades e também ao setor funerário como uma todo.

Saúde e Paz



Paulo Coelho

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